terça-feira, 24 de julho de 2012

O filho eterno - Cristóvão Tezza

Foi o primeiro livro do Tezza que eu li, e queria começar justamente por esse, que foi tão falado na época do lançamento. "O filho eterno" rendeu ao escritor o maior prêmio de literatura nacional, o Jabuti, e por isso mesmo que entrou na lista deste mês. (lista de um, na verdade, já que eu fiquei também entretida com a biografia do Steven Tyler).

"O filho eterno" conta a historia de um pai que descobre que tem um filho com síndrome de down. Ainda nos anos 80, a doença não era tão facilmente identificada antes do parto, por isso, ele só descobre depois do nascimento. A historia é claramente autobiográfica, o que a torna mil vezes melhor. Seria "ok" se tivesse nascido na cabeça do autor, mas o mais impressionante é como Tezza consegue desconstruir a própria imagem aos olhos do leitor.

Desde o inicio, antes do nascimento de Felipe, o pai da criança já é totalmente alheio ao parto. Ele representa um papel que se espera dele na sociedade, enquanto a única coisa que realmente importa é o lançamento do seu primeiro romance de sucesso. O nascimento de uma criança que precisa de tantos cuidados e portadora de uma deficiência ainda tão incompreendida pelo Brasil dos anos 80, no entanto, faz com que ele ser obrigado a "se importar" com o que acontece ao seu redor. O resultado são fases como a negação, o arrependimento, a vergonha e até mesmo a vontade de que o filho morra logo, mesmo que não tenha coragem de dizer isso em voz alta. Tezza põe para fora tudo o que passa pela cabeça de muita gente quando se depara com alguma dificuldade muito grande, mas que não pode ser dito. Por se passar dentro da cabeça de um personagem, tudo pode ser expressado. Por se tratar da historia real do autor, expressar tudo isso é extremamente corajoso.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A mulher do viajante no tempo - Audrey Niffenegger

O segundo e último livro do desafio deste mês foi terminado hoje, graças às muitas horas de ócio doloridas no hospital. Não dava muita coisa por esse livro, que, no começo, me lembrava "Um dia", um romance que achei meio bobo e para mim tem cara de filme. "A mulher do viajante no tempo" também tem muita cara de filme, tanto que virou um, mas me entreteve muito mais que "Um dia".

Como o nome já diz, o livro conta a história de um casal, em que o homem, Henry, viaja no tempo. Ele tem uma mutação genética que faz com que ele mude de tempo e espaço sem querer, quando sofre algum trauma, fique nervoso etc. Falando assim parece mais bobo do que é. No inicio, achei que ia ser bem mamão com açúcar, até que Audrey começa a criar uma confusão cronológica: Henry do futuro encontra Henry do passado, coisas do passado aconteceram graças a Henrys do futuro e um monte de maluquice.

Claire, a mulher de Henry e personagem principal deste livro, conhece seu futuro marido aos 6 anos de idade, quando ele já tinha mais de 40 e estava voltando no tempo para conhecer a infância de sua esposa. Por isso, quando ela de fato conhece Henry, aos 18 anos, ele ainda não a conhece, mas ela sim. Captou?

O romance passa por momentos cômicos, tristes, trágicos, fofos e tudo mais, ou seja: foi uma boa companhia de três dias de hospital. Valeu cada pagina. Às vezes eu achava que tinha pego uns erros de cronologia, mas acho que eu teria que reler para ver se eram erros mesmo ou se foram respondidos mais tarde.

Recomendo e verei o filme em breve, por pura curiosidade de ver como o diretor transformou essa confusão em imagens!

domingo, 3 de junho de 2012

A máquina do tempo - H. G. Wells

"A máquina do tempo" é um clássico publicado em 1895, por isso, quando vi que o tema do desafio deste mês era Viagens pelo Tempo, Wells foi o primeiro nome que me veio à cabeça. O livro está longe de ser um primor, mas ganhou espaço nas principais bibliotecas por sua inventividade e pioneirismo. Nesse tema que é bem mais amplo do que parece na literatura, as viagens pela quarta dimensão, Wells é um de seus precursores.

O livro, como o nome já adianta, conta a história de um cientista que inventa uma máquina do tempo. Desacreditado por todos, faz uma viagem ao ano de 802701, encontrando uma é época em que a raça humana teria se subdividido em duas, os Elois e os Morlocks. Os primeiros viviam alegres, saltitantes e cantarolando sem medo, de estatura menor que os humanos atuais (algo como Smurfs?). Os outros seriam uma raça subterrânea semelhante a aranhas, humanos decrépitos, carnívoros e com fotofobia.

O livro é narrado por um amigo do cientista, que escuta suas historias de viagem junto a jornalistas incrédulos. Embora envolvente, a história claramente acaba de repente.

Não tinha entendido bem porque até que um prefácio da edição de 1931 aparece como apêndice ao livro. Escrito pelo próprio autor, o prefacio explica que a idéia para o livro estava guardada havia muito tempo, mas dificuldades financeiras e profissionais (o autor era jornalista, para variar) fizeram com que ele resolvesse apresentar logo os originais ao mercado. Ainda assim, sem arrependimentos, Wells se mostra contente com sua obra, mesmo com falhas que julga evidentes, e diz ficar feliz toda vez que é citado em outros textos sobre o assunto. Continua um clássico, portanto ainda serão muitas as vezes.

* Comprei este livro em formato digital para né salvar da loucura em um jarro de hospital por uma semana, mas foi lido em dois dias. "A máquina do tempo" já é domínio público, por isso, pode ser encontrado gratuitamente em inglês, por US$ 1,99 em uma edição melhorzinha na Amazon ou por R$21 em português e digital - porque brasileiro adora fazer livro caro em cima de obra de domínio público, vai entender. Confesso que tenho as três versões e li em português mesmo...

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Por quem os sinos dobram - Ernest Hemingway

Já tive três impressões muito diferentes sobre Ernest Hemingway. Uma delas foi em "Paris é uma festa", de onde vêm uma de minhas frases preferidas sobre viagens, a segunda foi em "O velho e o mar", lindíssimo, e a outra foi o Hemingway relatado em "Casados com Paris", que desconstruiu (ou desmistificou) o autor da minha cabeça. No entanto, para este mês, decidi escolher outro livro do autor, para conhecer um pouco mais.

"Por quem os sinos dobram" ficou famoso depois de virar um longa metragem e retrata a Guerra Civil Espanhola. Embora não tenha participado desta guerra, Hemingway serviu ao exército e cobriu a guerra espanhola como jornalista, já na época em que era casado com sua segunda esposa, Pauline - logo, pouco depois do período em que se passa "Casados com Paris". Embora seja um romance, acredito que tenha algo de autobiográfico no personagem de Robert Jordan, americano encarregado de explodir uma ponte crucial para o avanço dos republicanos (lado que Hemingway apoiava) contra os fascistas.

Todo o livro se passa durante o planejamento da destruição da ponte, com a ajuda de um grupo de ciganos. Jordan se apaixona por uma das ciganas do grupo e traça planos de levá-lá com ele para Madri depois da explosão. As questões políticas entremeiam dúvidas como quem vai sobreviver e se a ponte será efetivamente destruída antes da chegada dos fascistas.

O livro flui bem e faz pensar que Hemingway tem, de fato, muitas facetas. "O sol também se levanta" deve ser o meu próximo. Quem sabe eu chego a uma conclusão sobre ele?

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O americano tranquilo - Grahan Greene

Depois de "Nosso homem em Havana", eu sou fã de Grahan Greene e, por esse mesmo motivo, é difícil ele ainda me surpreender. "...Havana" foi hilário e muitíssimo bem escrito, por isso eu sempre fico com um receio de ele nao ser tão brilhante no próximo livro dele que eu leio. De qualquer forma, quando vi a lista de indicações para a leitura desse mês, não foi difícil escolher esse livro.

"O americano tranquilo" conta a história de um jornalista, Thomas Fowler, durante a guerra de descolonização da Indochina. O livro, como deu para ver, se passa em um
Vietnã em guerra. Fowler, no entanto, já está mais do que cansado de ser correspondente em uma briga que ele não concorda e só pensa em ópio e Phuong, sua namorada vietnamita.

Phuong e Fowler se dão bem apesar de não poderem se casar, já que o personagem já é casado em seu país, a Inglaterra. Um dia, entanto, aparece um americano nessa historia. Tranquilo. Que trabalha para o governo e se apaixona por Fowler. Em meio a tiros, bombas, espionagem, fumaça de ópio e mortes, os dois tentam decidir de maneira muito diplomática quem tem mais razões para continuar com Phuong. Mas a guerra acaba decidindo o fim da história, como podemos imaginar desde o primeiro capitulo.

"O americano tranquilo" tem algumas características bem semelhantes a "Nosso homem em Havana", como o sarcasmo, um narrador muitas vezes mentiroso e o pano de fundo histórico, que complementa sem atrapalhar a trama.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Casados com Paris - Paula McLain

Angustiante. "Casados com Paris" é extremamente angustiante, o que juntou com o fato de eu já ter livro "Paris é uma festa", de Ernest Hemingway, e estar durante a tal da superlua, só sei que eu queria matar todo mundo naquele livro. Tá, nem tanto, só às vezes. O subtítulo explica tudo: "A história de ambição, amor e traição do jovem Hemingway e de sua primeira esposa durante os Anos Loucos na década de 20 na efervescente Paris". Hemingwayé o mesmo de "Paris é uma festa", "Por quem os sinos dobram", "O sol sempre nasce" e tantos outros. Neste livro, Paula McLain conta a história dele com a primeira esposa, Hadley, do ponto de vista dela.

O período é o mesmo de "Paris é uma festa", ou seja, anos 20, "efervecente Paris", época em que "todos" os escritores americanos estavam na Europa: Fitzgerald, Hemingway, Stein e todo mundo escrevia e bebia loucamente nos cafés parisienses. Tinha que dar "errado",  né. E deu, mas antes de dar errado, deu tudo errado por muitos e muitos capítulos, até você gritar para a Hadley: "Pelamordedeus, mulher, termina esse livro, senão eu termino ele pra você!".

Se você quer saber o quanto ele deu errado, Hadley foi a primeira das quatro esposas de Hemingway, que se matou com dois tiros depois das quatro. Essa parte é só um epílogo, já que o livro termina mesmo quando a Hadley finalmente se livra dele. Se você é mais um dos fãs de Hamingway, vai querer separar o escritor da pessoa depois desse livro.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

As meninas - Lygia Fagundes Telles

Que me desculpem os críticos, os professores de literatura, a Lygia e todo mundo, mas "As Meninas" definitivamente não foi feito para mim. Este era o mês de livros que se passam em alguma época histórica e este foi escolhido por retratar a ditadura brasileira, além de ser um exemplar de uma grande autora nacional. Reconheço todos os méritos da Lygia e das Meninas, mas simplesmente não via a hora do livro acabar.

Foi um dos poucos que eu consegui comprar na versão digital, e algo já me dizia que eu podia fazer isso sem medi de querer guardá-lo na minha estante mais tarde. Demorei mais do que eu esperava para ler e gostei dele menos do que eu achei que gostaria.

O livro, como já disse, tem a ditadura como pano de fundo. Ele se passa em um pensionato e gira entorno de três meninas, amigas, porém muito diferentes. Uma delas é revolucionária, se prepara para deixar o país e se juntar ao namorado preso que vai ser libertado. Outra é uma patricinha de família rica, estudante de Direito e alienada por opção. A terceira vive drogada e não fala coisa com coisa - passa metade do tempo atrasada para se encontrar com o noivo rico, enquanto se droga com o amante pobre.

A ditadura está lá, o sequestro do embaixador está lá, o medo da polícia, as referências históricas escondidas, está tudo lá - em meio a uma narração freqüentemente bem embolada e truncada (já que uma nas narradoras só fala coisas bobinhas, outra só fala marxismo e a terceira só fala. Ponto).

Quando comecei finalmente a me empolgar muito com o livro, faltava umas dez páginas para ele acabar. As dez últimas páginas salvam, mas eu estou com livro demais na minha cabeceira para fazer com que as outras 220 prendam a minha atenção. Desculpa, Lygia, ainda te adoro, mas que pensionato foi esse?

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Mar de papoulas - Amitav Ghosh

Este mês, do Desafio Literário, foi dedicado à literatura oriental, da qual eu tenho muito poucos exemplares na estante. A minha primeira opção era "País das Neves", de Yasunari Kawabata. Mas, infelizmente, a Livraria da Travessa não tinha nenhum exemplar dele. Infelizmente, porque a vendedora era apaixonada por esse livro e falou super bem dele. Deixei para comprar mais tarde, mas não imaginei que ia ser tão difícil de encontrar. A segunda opção era "Mar de papoulas", do indiano Amitav Ghosh, que foi uma grata surpresa.

No início, é um livro um pouco complicado de ler, já que é escrito com algumas gírias, inglês, bengali e mais um monte de dialetos (descobri mais tarde que a Índia tem uns 400 dialetos, o que explica a diversidade de idiomas no livro). É quase um papiamento. No fim do livro tem um glossário imenso, mas eu não tenho paciência com glossários e resolvi tentar entender o contexto das frases. Com o tempo, algumas palavras se repetem e fica muito mais fácil de entender.

A história se passa durante pouco antes da guerra do ópio, quando praticamente todas as plantações indianas são substituídas por plantações de ópio para exportação. A população fica quase sem ter o que comer, já que mais nada é plantado, conhecem o vício do ópio e pequenas cidades mudam drásticamente por conta dessa nova economia. O sistema de castas indiano também é muito presente durante toda a narrativa.

O livro conta, na verdade, diversas histórias de pessoas de diversas castas, mas todas elas ligadas de alguma forma ao ópio e, mais importante, ao Ibis, um navio que vira um personagem à parte. Ao longo do livro você percebe que essas pessoas de histórias de vida tão diferentes, vão todas desembocar no Ibis, para continuar a trama dentro de um navio de escravos.

A leitura foi completamente diferente do que eu estou acostumada, mas valeu muito a pena. A história é interessantíssima e a forma como Amitav brinca com as palavras de vários dialetos em uma mesma conversa é muito divertida. O contexto histórico fica como pano de fundo, mas não é menos importante. Uma boa pedida para quem quer um pouco mais do gosto da Índia.

sábado, 31 de março de 2012

Eu mato - Giorgio Faletti

Achei que este mês eu fosse ler um milhão de livros, pelo tema que é. Não que eu leia muitos livros de serial killers, mas não é um tema do qual eu seja muito alheia, afinal, Criminal Minds, Csi e todos os outros estão aí para isso. Mas isso não aconteceu. Um dos motivos, além de uma agenda lotada, uma troca de emprego e um projeto de final de curso, pode ter sido o peso de Eu Mato, de Giorgio Faletti.

Por ser muito grande, não dançara levar na bolsa, e aí as pessoas só podem morrer quando eu chegava em casa. Pelo tamanho do livro, da pra ver que morre muita gente, como todo bom serial.

Quem mata é um ser misterioso que resolve anunciar em um programa de radio todas as vitimas antes de matá-las. Mas não é tao fácil assim. As mensagens são cifradas em musicas, ou seja, cada vitima tem uma música chave que leva a ela e, para encontrar o assassino, os policiais vão ter que seguir essa trilha musical.

O livro é muito interessante e as mortes são sem duvida cenograficas, já que "ninguem", como é chamado o assassino, retira o rosto de todas as vitimas após a morte. Entretanto, achei que a escolha do assassino foi um tanto quanto aleatória. Não achei que o perfil combinasse com ele (será que eu assisti Criminal Minds demais?), mas acho que valeu a pena, principalmente pela diferença que é ler um livro italiano, para variar...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Dexter - Jeff Lindsay

Muitos já devem conhecer Dexter das telas de um seriado popular da Warner. Eu, por sorte, ainda não tinha assistido a nenhum episódio da série então pude ler o primeiro livro do mês dedicado a serial killers sem a interferência da imagem que já tinham construído dele. Dexter é um seria killer um pouquinho diferente. Ele tem aquele impulso incontornável de matar pessoas que vem com uma voz estranha no fundo da cabeça dele, mas, em consideração a seu pai adotivo, ele consegue escolher suas vítimas. Assim, só morre quem merece morrer, quem tem motivos para isso, quem não presta, e o trabalho é feito com muito esmero, sem grandes banhos de sangue e sem deixar pistas.

Para não ser pego pela polícia, além de pensar em todos os detalhes antes de cada assassinato, Dexter também cultiva uma imagem de cidadão normal perante a sociedade. Ele finge que tem uma namorada, ele finge que se importa com as pessoas, ele finge que tem sentimentos, enfim, ele finge ser normal. Sua irmã, por ironia do destino ou do autor, seguiu a carreira do pai adotivo de Dexter e virou policial. Não muito bem sucedida, é verdade, mas virou e batalha bastante para ser levada a sério no trabalho e ser transferida para o setor de homicídios.

No primeiro livro da série, uma seqüência de assassinatos chama a atenção da polícia e de Dexter. O modus operandi do assassino é tão perfeito que parece brincar com a capacidade de Dexter de resolver o caso. Sim, faltou dizer que Dexter é especialista e borrifos de sangue (blood splatter) e, por isso, também trabalha com os policiais. Para completar, todas as mortes são realizadas sem sujeira com sangue, cortes cirúrgicos e uma limpeza que mata Dexter de inveja e curiosidade. É tudo tão parecido com seu próprio modo de matar, que ele chega a se perguntar se não foi ele mesmo que matou as vítimas.

A melhor parte do livro é o texto irônico e o jeito engraçado de Dexter, que é menos desastrado que parece ter sido mostrado na série, mais sombrio e cansado da raça humana e muito mais cheios de tocs quando trata dos assassinatos. Como eu não sou ávida leitora de livros de assassinatos, Dexter foi uma grata surpresa. Espero que a seqüência de livros faça o mesmo sucesso que a seqüência de episódios da Warner.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

"Emma", Jane Austen

Que me desculpem todos os professores de literatura, todas as menininhas, todos os amantes da literatura britânica, mas Jane Austen é uma velha fofoqueira. Pronto, falei. Este mês, no desafio, foi a vez de livros cujo título era um nome próprio. Coloquei alguns na lista e acabei indo para Emma. Ana Karenina era grande demais para a minha falta de tempo este mês (que, além de mais curto, ainda teve uma semana de Carnaval) e Benjamim estava em falta na Travessa. Aos 45 do segundo tempo, eu acabei baixando a versão bilingüe de Emma no site da Saraiva e lendo ele no iPhone mesmo.

Eu já havia lido Persuasão, da autora, em inglês, e também não tinha ficado muito fã. Não foi ruim, mas também não me prendeu. Jane Austen é extremamente irônica e, logo de cara, achei que ia me dar muito bem com ela. Só que não.

Tanto a personagem principal de Persuasão, como Emma, me pareceram muito autobiográficas, por algum motivo. Acho que por isso eu fiquei com a impressão de que a chata era ela.

Emma mora com o pai e acabou de "perder" a empregada/babá/governanta/ama. Não, ela não morreu, só se casou, mas para a família foi como se fosse. Como ela parece não ter vida própria, Emma se ocupa da vida dos outros. Ela arranja casamentos, espalha fofocas, fala mal da vida alheia, julga as famílias menos nobres que ela e decide ser uma tia solteirona que vai só cuidar da vida alheia. Só que com palavras mais bonitas, se você perguntar para alguém que tenha gostado do livro.

Apesar de bem escrito, você vai se surpreender com a capacidade de gastar páginas e mais páginas que Jane tem para falar sobre o tempo. Todos os personagens têm um medo horrível de janelas abertas ou passeios ao ar livre, porque você pode pegar um resfriado a qualquer momento.

Emma se empenha em organizar uma festa e um monte de gente é chamada para dar palpite de onde colocar cada móvel e você, pobre leitor que só querer saber se ela vai terminar solteirona mesmo ou não, é obrigada a acompanhar todas as discussões sobre o espaço ser ou não suficiente padrão número de casais convidados para dançar. Torci para que as janelas fossem esquecidas abertas e todos morressem de pneumonia.

Novamente, eu reconheço a importância de Jane Austen para a literatura anglosaxã e juro que dei duas chances para ela, mas meu espírito jornalístico/editor só conseguia pensar em cortar metade daquelas frases e resumir aquela historia em 100 páginas. O livro tem 400, aliás.

[* - 1 estrela]

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

eBooks gratuitos de Marketing Digital

Hoje eu estava atrás de livros de Marketing Digital. Mais especificamente de web writing, ou seja, de escrita para a internet. O livro lindão que eu quero comprar eu já tenho em mente, mas ele é caro e eu tenho outros dez mil livros na frente dele que eu também "preciso" ter! Então, recorri aos ebooks, para ver se algum chamava a minha atenção. Gente, porque raios ainda não estão investindo nos ebooks dessa área? Ninguém percebeu como é irônico lançar um livro sobre marketing digital, mídias sociais, web 2.0 e publicar somente em papel? Só eu achei?

Foi aí que eu tropecei em alguns títulos ou referências gratuitas! Não faço a menor ideia se são bons ou ruins, já que isso tudo foi encontrado hoje. Todos já foram devidamente transferidos para o iBooks. Segue a listinha mão-na-roda:


Se a sua procura é por mídias sociais, vai encontrar muito mais coisa por aí, mas, como eu disse, o meu foco era em texto para web, e esses me prometeram mais. Se você é formado em Marketing, com certeza vai achar o material fraco, corre pro livrão grande! :)

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sangue, Ossos e Manteiga - Gabrielle Hamilton

No último dia do mês, terminei o terceiro livro da série de literatura gastronômica do desafio. "Sangue, ossos e manteiga", da chef Gabrielle Hamilton, já estava na minha lista de "para ler" desde antes de ser traduzido para português. Ele estava na lista dos mais lidos do Goodreads e tinha uma capa super interessante. Eu tinha ele em ebook no iPad, mas nunca cheguei a terminar o primeiro capítulo. Com o desafio, acabei comprando o livro de verdade e pegando para ler (de verdade).

Gabrielle Hamilton é um versão feminina de Anthony Bourdain. Desbocada, ela já foi chef, já trabalhou em lanchonetes nojentinhas, já trabalhou como garçonete, já foi pobre, já foi lésbica, já foi drogada, já casou para salvar um italiano da deportação, já teve dois filhos, já abriu um restaurante, já escreveu um livro e mais um monte de coisa. Bourdain inclusive menciona Gabrielle em "Ao ponto", sendo uma das poucas figuras que ele critica só um pouco (enquanto todos os outros chefs ele joga aos porcos).

O livro conta a história de Gabrielle desde a infância, com a mãe francesa que a ensinou a comer e a cozinhar bem, até a separação dos pais, quando aprendeu com o pai a matar uma galinha (o que no caso dela acaba sendo desastroso - para a galinha, principalmente), um grande período de drogas e falta de comida até chegar a abrir o seu próprio restaurante, onde conhece seu futuro marido, prestes a ser deportado dos EUA, com quem visita anualmente a Itália e suas maravilhas gastronômicas.

"Sangue, ossos e manteiga" tem mais biografia do que propriamente sangue, ossos e manteiga. Ou seja: comida. Mas justamente por isso é tão recomendado para todo mundo que quer um livro leve para ler - ao contrário do que a cabeça decepada da capa e o título possam parecer.

[**** - 4 estrelas!]

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A mesa voadora - Veríssimo

Veríssimo é tudo. O de verdade, e não aquele que você recebe por e-mail de gente que repassa tudo o que recebe. O Veríssimo de verdade tem um senso de humor sutil, disfarçado de ironia, disfarçado de falta de educação ou algo do tipo. E tem cara de quem gosta de uma comida boa de verdade. "A mesa voadora" é um daqueles livros fininhos que muita gente já leu na escola. É uma coletânea de crônicas publicadas sobre comidas, vinhos, restaurantes, viagens gastronômicas e comilanças em geral. O livro é uma delícia.

Em "A mesa voadora", Veríssimo fala mal da salsinha, ensina a furar fila no buffet, trava uma guerra entre não entedendores de vinho, conta vantagem sobre suas viagens gastronômicas mais invejáveis, come bem, come mal e come muito. Ele apresenta alguns personagens cativantes de restaurantes e bares, passeia pelo Rio, por Porto Alegre, por São Paulo, pela Itália e por vários outros lugares gostosos, de cinco ou nenhuma estrela.

Meu carinho pela salsinha e por Veríssimo lutaram durante o livro inteiro, mas Veríssimo ganhou no final e eu não pude ficar chateado com ele por isso. Espero que ele não fique chateado por eu continuar comendo salsinhas...

[**** - quatro estrelas!]

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Escola dos Sabores - Erica Bauermeister

Como já expliquei no último post, estou participando de outro desafio, dessa vez temático. "Escola dos Sabores" foi o primeiro livro lido no ano, no mês dedicado à literatura gastronômica. Eu já tenho uma biblioteca bem extensa desse tema, então fui atrás de coisas que eu ainda não tinha lido. Como era de se esperar, escolhi esse aí pela capa. Normalmente eu não erro, mas tem sempre uma primeira vez. Não sei se foi o interesse com o tema ou a quantidade de comparações, já que eu já li vários outros livros sobre comidas, mas Erica Bauermeister não me convenceu nem de longe.

O livro, como o nome já diz, conta a história de um curso de culinária. Cada capítulo é dedicado a um personagem, que são justamente os alunos do curso e a professora, Lilian. Cada um tem uma história de vida para contar e um motivo para estar ali, naquela sala de aula. Uns receberam o curso como presente de familiares, outros buscavam aprimorar um hobby, outros saíam de depressões... Enfim, cada capítulo era quase que um conto próprio, o que poderia ter dado certo. Mas não deu.

"Escola de Sabores", da Sextante - editora conhecida por publicar livros muito bem sucedidos de autoajuda -, lembra exatamente isso: autoajuda. Ele começa muito bem, com a história da infância da professora, Lilian, mas desanda no caminho. A comida, que deveria ser exatamente o fio condutor da história, fica em segundo plano. O roteiro poderia se passar em uma escola de mecânica ou em um pré-vestibular, ou seja, a cozinha foi simplesmente um lugar onde todos aqueles personagens cheios de problemas foram jogados, quase um Big Brother psicológico.

Quando cada um terminou de contar sua história e os capítulos chegaram ao fim... Fim do livro. Meio como Dubliness, mas numa versão mais leve e rosa. Só de eu tê-lo terminado, quer dizer que não é tão ruim assim, conheço inclusive gente que vai ter muito mais sensibilidade para apreciar a leitura mais do que eu, mas não valeu como primeira leitura do ano. Corri para o Veríssimo, que vem no próximo post.

[* - uma estrela!]