terça-feira, 24 de julho de 2012

O filho eterno - Cristóvão Tezza

Foi o primeiro livro do Tezza que eu li, e queria começar justamente por esse, que foi tão falado na época do lançamento. "O filho eterno" rendeu ao escritor o maior prêmio de literatura nacional, o Jabuti, e por isso mesmo que entrou na lista deste mês. (lista de um, na verdade, já que eu fiquei também entretida com a biografia do Steven Tyler).

"O filho eterno" conta a historia de um pai que descobre que tem um filho com síndrome de down. Ainda nos anos 80, a doença não era tão facilmente identificada antes do parto, por isso, ele só descobre depois do nascimento. A historia é claramente autobiográfica, o que a torna mil vezes melhor. Seria "ok" se tivesse nascido na cabeça do autor, mas o mais impressionante é como Tezza consegue desconstruir a própria imagem aos olhos do leitor.

Desde o inicio, antes do nascimento de Felipe, o pai da criança já é totalmente alheio ao parto. Ele representa um papel que se espera dele na sociedade, enquanto a única coisa que realmente importa é o lançamento do seu primeiro romance de sucesso. O nascimento de uma criança que precisa de tantos cuidados e portadora de uma deficiência ainda tão incompreendida pelo Brasil dos anos 80, no entanto, faz com que ele ser obrigado a "se importar" com o que acontece ao seu redor. O resultado são fases como a negação, o arrependimento, a vergonha e até mesmo a vontade de que o filho morra logo, mesmo que não tenha coragem de dizer isso em voz alta. Tezza põe para fora tudo o que passa pela cabeça de muita gente quando se depara com alguma dificuldade muito grande, mas que não pode ser dito. Por se passar dentro da cabeça de um personagem, tudo pode ser expressado. Por se tratar da historia real do autor, expressar tudo isso é extremamente corajoso.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A mulher do viajante no tempo - Audrey Niffenegger

O segundo e último livro do desafio deste mês foi terminado hoje, graças às muitas horas de ócio doloridas no hospital. Não dava muita coisa por esse livro, que, no começo, me lembrava "Um dia", um romance que achei meio bobo e para mim tem cara de filme. "A mulher do viajante no tempo" também tem muita cara de filme, tanto que virou um, mas me entreteve muito mais que "Um dia".

Como o nome já diz, o livro conta a história de um casal, em que o homem, Henry, viaja no tempo. Ele tem uma mutação genética que faz com que ele mude de tempo e espaço sem querer, quando sofre algum trauma, fique nervoso etc. Falando assim parece mais bobo do que é. No inicio, achei que ia ser bem mamão com açúcar, até que Audrey começa a criar uma confusão cronológica: Henry do futuro encontra Henry do passado, coisas do passado aconteceram graças a Henrys do futuro e um monte de maluquice.

Claire, a mulher de Henry e personagem principal deste livro, conhece seu futuro marido aos 6 anos de idade, quando ele já tinha mais de 40 e estava voltando no tempo para conhecer a infância de sua esposa. Por isso, quando ela de fato conhece Henry, aos 18 anos, ele ainda não a conhece, mas ela sim. Captou?

O romance passa por momentos cômicos, tristes, trágicos, fofos e tudo mais, ou seja: foi uma boa companhia de três dias de hospital. Valeu cada pagina. Às vezes eu achava que tinha pego uns erros de cronologia, mas acho que eu teria que reler para ver se eram erros mesmo ou se foram respondidos mais tarde.

Recomendo e verei o filme em breve, por pura curiosidade de ver como o diretor transformou essa confusão em imagens!

domingo, 3 de junho de 2012

A máquina do tempo - H. G. Wells

"A máquina do tempo" é um clássico publicado em 1895, por isso, quando vi que o tema do desafio deste mês era Viagens pelo Tempo, Wells foi o primeiro nome que me veio à cabeça. O livro está longe de ser um primor, mas ganhou espaço nas principais bibliotecas por sua inventividade e pioneirismo. Nesse tema que é bem mais amplo do que parece na literatura, as viagens pela quarta dimensão, Wells é um de seus precursores.

O livro, como o nome já adianta, conta a história de um cientista que inventa uma máquina do tempo. Desacreditado por todos, faz uma viagem ao ano de 802701, encontrando uma é época em que a raça humana teria se subdividido em duas, os Elois e os Morlocks. Os primeiros viviam alegres, saltitantes e cantarolando sem medo, de estatura menor que os humanos atuais (algo como Smurfs?). Os outros seriam uma raça subterrânea semelhante a aranhas, humanos decrépitos, carnívoros e com fotofobia.

O livro é narrado por um amigo do cientista, que escuta suas historias de viagem junto a jornalistas incrédulos. Embora envolvente, a história claramente acaba de repente.

Não tinha entendido bem porque até que um prefácio da edição de 1931 aparece como apêndice ao livro. Escrito pelo próprio autor, o prefacio explica que a idéia para o livro estava guardada havia muito tempo, mas dificuldades financeiras e profissionais (o autor era jornalista, para variar) fizeram com que ele resolvesse apresentar logo os originais ao mercado. Ainda assim, sem arrependimentos, Wells se mostra contente com sua obra, mesmo com falhas que julga evidentes, e diz ficar feliz toda vez que é citado em outros textos sobre o assunto. Continua um clássico, portanto ainda serão muitas as vezes.

* Comprei este livro em formato digital para né salvar da loucura em um jarro de hospital por uma semana, mas foi lido em dois dias. "A máquina do tempo" já é domínio público, por isso, pode ser encontrado gratuitamente em inglês, por US$ 1,99 em uma edição melhorzinha na Amazon ou por R$21 em português e digital - porque brasileiro adora fazer livro caro em cima de obra de domínio público, vai entender. Confesso que tenho as três versões e li em português mesmo...

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Por quem os sinos dobram - Ernest Hemingway

Já tive três impressões muito diferentes sobre Ernest Hemingway. Uma delas foi em "Paris é uma festa", de onde vêm uma de minhas frases preferidas sobre viagens, a segunda foi em "O velho e o mar", lindíssimo, e a outra foi o Hemingway relatado em "Casados com Paris", que desconstruiu (ou desmistificou) o autor da minha cabeça. No entanto, para este mês, decidi escolher outro livro do autor, para conhecer um pouco mais.

"Por quem os sinos dobram" ficou famoso depois de virar um longa metragem e retrata a Guerra Civil Espanhola. Embora não tenha participado desta guerra, Hemingway serviu ao exército e cobriu a guerra espanhola como jornalista, já na época em que era casado com sua segunda esposa, Pauline - logo, pouco depois do período em que se passa "Casados com Paris". Embora seja um romance, acredito que tenha algo de autobiográfico no personagem de Robert Jordan, americano encarregado de explodir uma ponte crucial para o avanço dos republicanos (lado que Hemingway apoiava) contra os fascistas.

Todo o livro se passa durante o planejamento da destruição da ponte, com a ajuda de um grupo de ciganos. Jordan se apaixona por uma das ciganas do grupo e traça planos de levá-lá com ele para Madri depois da explosão. As questões políticas entremeiam dúvidas como quem vai sobreviver e se a ponte será efetivamente destruída antes da chegada dos fascistas.

O livro flui bem e faz pensar que Hemingway tem, de fato, muitas facetas. "O sol também se levanta" deve ser o meu próximo. Quem sabe eu chego a uma conclusão sobre ele?

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O americano tranquilo - Grahan Greene

Depois de "Nosso homem em Havana", eu sou fã de Grahan Greene e, por esse mesmo motivo, é difícil ele ainda me surpreender. "...Havana" foi hilário e muitíssimo bem escrito, por isso eu sempre fico com um receio de ele nao ser tão brilhante no próximo livro dele que eu leio. De qualquer forma, quando vi a lista de indicações para a leitura desse mês, não foi difícil escolher esse livro.

"O americano tranquilo" conta a história de um jornalista, Thomas Fowler, durante a guerra de descolonização da Indochina. O livro, como deu para ver, se passa em um
Vietnã em guerra. Fowler, no entanto, já está mais do que cansado de ser correspondente em uma briga que ele não concorda e só pensa em ópio e Phuong, sua namorada vietnamita.

Phuong e Fowler se dão bem apesar de não poderem se casar, já que o personagem já é casado em seu país, a Inglaterra. Um dia, entanto, aparece um americano nessa historia. Tranquilo. Que trabalha para o governo e se apaixona por Fowler. Em meio a tiros, bombas, espionagem, fumaça de ópio e mortes, os dois tentam decidir de maneira muito diplomática quem tem mais razões para continuar com Phuong. Mas a guerra acaba decidindo o fim da história, como podemos imaginar desde o primeiro capitulo.

"O americano tranquilo" tem algumas características bem semelhantes a "Nosso homem em Havana", como o sarcasmo, um narrador muitas vezes mentiroso e o pano de fundo histórico, que complementa sem atrapalhar a trama.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Casados com Paris - Paula McLain

Angustiante. "Casados com Paris" é extremamente angustiante, o que juntou com o fato de eu já ter livro "Paris é uma festa", de Ernest Hemingway, e estar durante a tal da superlua, só sei que eu queria matar todo mundo naquele livro. Tá, nem tanto, só às vezes. O subtítulo explica tudo: "A história de ambição, amor e traição do jovem Hemingway e de sua primeira esposa durante os Anos Loucos na década de 20 na efervescente Paris". Hemingwayé o mesmo de "Paris é uma festa", "Por quem os sinos dobram", "O sol sempre nasce" e tantos outros. Neste livro, Paula McLain conta a história dele com a primeira esposa, Hadley, do ponto de vista dela.

O período é o mesmo de "Paris é uma festa", ou seja, anos 20, "efervecente Paris", época em que "todos" os escritores americanos estavam na Europa: Fitzgerald, Hemingway, Stein e todo mundo escrevia e bebia loucamente nos cafés parisienses. Tinha que dar "errado",  né. E deu, mas antes de dar errado, deu tudo errado por muitos e muitos capítulos, até você gritar para a Hadley: "Pelamordedeus, mulher, termina esse livro, senão eu termino ele pra você!".

Se você quer saber o quanto ele deu errado, Hadley foi a primeira das quatro esposas de Hemingway, que se matou com dois tiros depois das quatro. Essa parte é só um epílogo, já que o livro termina mesmo quando a Hadley finalmente se livra dele. Se você é mais um dos fãs de Hamingway, vai querer separar o escritor da pessoa depois desse livro.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

As meninas - Lygia Fagundes Telles

Que me desculpem os críticos, os professores de literatura, a Lygia e todo mundo, mas "As Meninas" definitivamente não foi feito para mim. Este era o mês de livros que se passam em alguma época histórica e este foi escolhido por retratar a ditadura brasileira, além de ser um exemplar de uma grande autora nacional. Reconheço todos os méritos da Lygia e das Meninas, mas simplesmente não via a hora do livro acabar.

Foi um dos poucos que eu consegui comprar na versão digital, e algo já me dizia que eu podia fazer isso sem medi de querer guardá-lo na minha estante mais tarde. Demorei mais do que eu esperava para ler e gostei dele menos do que eu achei que gostaria.

O livro, como já disse, tem a ditadura como pano de fundo. Ele se passa em um pensionato e gira entorno de três meninas, amigas, porém muito diferentes. Uma delas é revolucionária, se prepara para deixar o país e se juntar ao namorado preso que vai ser libertado. Outra é uma patricinha de família rica, estudante de Direito e alienada por opção. A terceira vive drogada e não fala coisa com coisa - passa metade do tempo atrasada para se encontrar com o noivo rico, enquanto se droga com o amante pobre.

A ditadura está lá, o sequestro do embaixador está lá, o medo da polícia, as referências históricas escondidas, está tudo lá - em meio a uma narração freqüentemente bem embolada e truncada (já que uma nas narradoras só fala coisas bobinhas, outra só fala marxismo e a terceira só fala. Ponto).

Quando comecei finalmente a me empolgar muito com o livro, faltava umas dez páginas para ele acabar. As dez últimas páginas salvam, mas eu estou com livro demais na minha cabeceira para fazer com que as outras 220 prendam a minha atenção. Desculpa, Lygia, ainda te adoro, mas que pensionato foi esse?