terça-feira, 17 de maio de 2011

Blogueiros: a nova imprensa especializada em não se especializar

Outro dia me deparei com um exemplar de "Beatriz e Virgílio", do canadense Yann Martel, à venda por R$ 5 reais em frente à estação Carioca - olha a dica, hein, a feirinha continua lá, mas é preciso garimpar. Comprei, já que estava na onda dos "novos escritores", e fui para casa. Antes de começar a leitura - que sempre leva a uma resenha publicada em algum dos blogs parceiros - me deparei com o carimbo "Imprensa", da editora, o que significava que o livro era, na verdade, destinado a algum jornalista, mas que nunca foi resenhado. Sim, pelas condições do livro, era seguro dizer que ele nunca foi lido, gerando custo desnecessário à editora e peso desnecessário à estante do jornalista (que rapidamente se livrou dele com o primeiro sebo que encontrou, o de rua, na Carioca).

As razões do jornalista podiam ser várias: o lançamento do padre Marcelo Rossi, que mereceu mais espaço no jornal, o fato do autor não ser nada conhecido (pelo menos até o Prosa e Verso se dar ao luxo de falar brevemente sobre ele), o fato do livro ser fino (sim, as pessoas ainda julgam o livro pelo número de páginas, mais do que pela capa), ou simplesmente a quantidade absurda de livros gratuitos que os jornalistas recebem diariamente na redação.

Ah... que saudade dos livros gratuitos de resenhar. Se ao menos isso acontecesse com blogs também...

Peraí. Mas acontece!

Já que os jornalistas "de verdade" não conseguem dar conta ou não têm interesse em resenhar livros que as editoras precisam fazer conhecer (seja porque ainda não chegaram ao boca a boca, seja porque realmente encalharam desde o lançamento), os blogueiros estão aí para isso. E para as editoras que já perceberam que as mídias sociais são o caminho do futuro para a propaganda (quase) gratuita.

Blogueiros têm mais tempo e mais interesse em ler os lançamentos das editoras. Blogueiros têm credibilidade entre os leitores assíduos, tanto porque fazem o trabalho bem apesar de faltar a base técnica do jornalismo, quanto porque dão uma visão "de igual para igual" do livro. Muitas pessoas não querem a visão de um especialista em literatura, querem apenas saber se um livro é ou não digno de seu tempo.

Como a interação entre o público e as empresas ainda engatinha, principalmente no mercado editorial, algumas pisadas na bola ainda podem ser vistas nos blogs mais movimentados. Poucas são as editoras que incluem os clássicos ou os bestsellers de peso na lista de livros enviados a blogueiros. Lá, por outro lado, é onde o visitante vai encontrar as últimas notícias do mundo dos vampiros - os seres que tomaram de assalto o mundo literários dos bruxos. A ideia é que o público alvo dessas páginas são os pré-adolescentes, mas aí cabe uma ressalva. Cresce cada vez mais a procura dos mais velhos por dicas de leitura na internet, e crescerá ainda mais quanto mais popularizados estiverem os livros virtuais.

O canal de debate já existe, cabe aprender a utilizar e valorizar esses novos jornalistas "de mentira" que, sem a pretensão do bom texto e do conhecimento literário acadêmico, podem indicar ao leitor o caminho para as prateleiras mais divertidas.

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