Foi o primeiro livro do Tezza que eu li, e queria começar justamente por esse, que foi tão falado na época do lançamento. "O filho eterno" rendeu ao escritor o maior prêmio de literatura nacional, o Jabuti, e por isso mesmo que entrou na lista deste mês. (lista de um, na verdade, já que eu fiquei também entretida com a biografia do Steven Tyler).
"O filho eterno" conta a historia de um pai que descobre que tem um filho com síndrome de down. Ainda nos anos 80, a doença não era tão facilmente identificada antes do parto, por isso, ele só descobre depois do nascimento. A historia é claramente autobiográfica, o que a torna mil vezes melhor. Seria "ok" se tivesse nascido na cabeça do autor, mas o mais impressionante é como Tezza consegue desconstruir a própria imagem aos olhos do leitor.
Desde o inicio, antes do nascimento de Felipe, o pai da criança já é totalmente alheio ao parto. Ele representa um papel que se espera dele na sociedade, enquanto a única coisa que realmente importa é o lançamento do seu primeiro romance de sucesso. O nascimento de uma criança que precisa de tantos cuidados e portadora de uma deficiência ainda tão incompreendida pelo Brasil dos anos 80, no entanto, faz com que ele ser obrigado a "se importar" com o que acontece ao seu redor. O resultado são fases como a negação, o arrependimento, a vergonha e até mesmo a vontade de que o filho morra logo, mesmo que não tenha coragem de dizer isso em voz alta. Tezza põe para fora tudo o que passa pela cabeça de muita gente quando se depara com alguma dificuldade muito grande, mas que não pode ser dito. Por se passar dentro da cabeça de um personagem, tudo pode ser expressado. Por se tratar da historia real do autor, expressar tudo isso é extremamente corajoso.